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Quarta-feira, 14 de Maio de 2025

Ciência & Tecnologia

Carros elétricos no Brasil enfrentam alta depreciação e estoques em excesso

Modelos 100% elétricos usados podem perder até 47% do valor em dois anos, segundo estudo

Folha de Espinosa
Por Folha de Espinosa
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Carros elétricos no Brasil enfrentam alta depreciação e estoques em excesso
Carro Elétrico
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A empolgação em torno dos carros elétricos no Brasil está esfriando. Embora as vendas desses veículos estejam crescendo no mercado de novos, a desvalorização acentuada dos modelos usados tem causado surpresa tanto para consumidores quanto para frotistas.

Conforme consultores automotivos ouvidos pelo AUTOTEMPO, carros 100% elétricos com dois a três anos de uso e baixa quilometragem estão sendo vendidos por até 45% abaixo da tabela Fipe.

Em alguns casos, o valor de revenda chega a ser menos da metade do preço original pago por um veículo novo. Outro estudo realizado pela Kelly Blue Book (KBB) comprova que, em 2023, os veículos elétricos usados no Brasil desvalorizaram até 47% nos últimos dois anos ao serem trocados por modelos novos.

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Desvalorização 6 vezes maior

A Webmotors, principal plataforma de venda de seminovos e usados no Brasil, reportou uma desvalorização média de 12% nos preços dos carros movidos a bateria em 2024.

Esse percentual é o dobro dos 6% de depreciação observados nos veículos híbridos e quase seis vezes maior do que a média de desvalorização dos veículos seminovos com motor a combustão (em média, de 2,25%). 

A queda acentuada no preço dos carros 100% elétricos após a compra e o suposto atrativo extra não se traduz em um potencial número maior de compradores. Os modelos elétricos têm ficado, em média, até 1 ano encalhado nas lojas.

"É carro para ser descartado"

Em entrevista ao AUTOTEMPO, o consultor automotivo Milad Kalume, ex-CEO da Jato, explicou que a grande preocupação dos compradores de carros elétricos é a durabilidade da bateria.

"Estudos mostram que a bateria de um elétrico dura em torno de 8 anos. De forma prática, quando você precisa repor essa bateria o custo ainda é muito alto, basicamente, responde pelo valor total do veículo. Fica inviável, é carro para ser descartado", destacou Kalume.

Segundo o consultor, a carência de mão de obra especializada para lidar com falhas mecânicas dos carros 100% elétricos contribui também para alta desvalorização e baixa procura por compra dos veículos movidos a bateria seminovos ou usados no Brasil.

"Por mais que dê menos manutenção em teoria, se comparado a um veículo a combustão, é necessária uma mão de obra muito especializada e muito mais cara para consertar um carro 100% elétrico. O mecânico da sua esquina não consegue mexer nesse carro", concluiu Kalume.

Infraestrutura ainda é precária 

Cássio Pagliarini, executivo da Bright Consulting, uma das maiores empresas de consultoria independente no Brasil, corrobora com a análise do especialista, e cita também a ainda limitadíssima infraestrutura de recarga de baterias como outro agravante para depreciação dos elétricos no país.

"Fatores como o preço elevado, a disponibilidade limitada de pontos de recarga, a expectativa de vida das baterias e a autonomia de rodagem contribuem para essa desvalorização", reforçou Pagliarini ao AUTOTEMPO.

De acordo com dados da Tupi Mobilidade, associados à Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil tinha até agosto de 2024 apenas 10.622 pontos de recarga públicos e semipúblicos disponíveis.

 

Além disso, deste total, a maioria, 89% dos carregadores, são de corrente alternada (AC), de carga lenta (9.506), que leva horas para recuperar a carga da bateria, enquanto somente 11% são de corrente contínua (DC), de carga rápida (1.109).

Elétricos premium desvalorizam menos

Um estudo da Bright Consulting revelou que a depreciação média dos veículos elétricos (BEVs) no Brasil é maior do que a dos veículos a combustão, especialmente devido à insegurança dos compradores em relação à nova tecnologia. 

Para veículos acima de R$ 300 mil, a depreciação média no primeiro ano é de 8%, enquanto para veículos abaixo desse valor, sobe para 15%. "A maior desvalorização dos veículos eletrificados usados é causada pela insegurança dos clientes quanto à nova tecnologia e à garantia", avaliou Pagliarini.

Locadoras reavaliam investimentos 

Até mesmo os grandes frotistas, como as locadoras, maiores "clientes" das montadoras no Brasil, estão reconsiderando a expansão de suas frotas de veículos elétricos devido à alta depreciação e prejuízos na revenda. 

Segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), foram adquiridas 11 mil unidades de veículos eletrificados nos últimos anos, representando menos de 1% da frota total.

Conforme a Abla, a maioria desses veículos está alugada para empresas e motoristas de aplicativos, mas a depreciação dos primeiros modelos elétricos vendidos chegou a 45%, frustrando totalmente as expectativas do setor.

O impacto global também é significativo. No início de 2024, a Hertz, uma das maiores locadoras do mundo, desistiu de adquirir 100 mil Teslas e iniciou a venda de 20 mil carros elétricos por menos da metade do valor de compra.

O montante representa quase um terço da frota da empresa nos Estados Unidos e foi "rifado" após a Hertz registrar um prejuízo líquido de US$ 245 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) no último quadrimestre de 2023 devido à desvalorização de sua frota.

Mercado em ascensão, mas ainda incerto

Enilson Sales, presidente da Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto), destacou que o mercado de carros eletrificados continua em fase de desenvolvimento no Brasil e que, por isto, qualquer comparação com o segmento dos veículos a combustão, seria injusta. 

"Tentar estabelecer, agora, semelhanças entre esses dois tipos/mercados (em termos de quanto cada um sofrerá um percentual de desvalorização), seria desigual e injusto. O nosso segmento continua entendendo a dinâmica desse mercado específico (dos eletrificados), e deve se adaptar gradualmente sobre como deverão proceder na avaliação dos eletrificados usados", afirmou Sales.

Segundo a Fenauto, entre janeiro e julho de 2024, as vendas de carros eletrificados (elétricos e híbridos) usados cresceram 90% no Brasil, totalizando 33 mil unidades, das quais 83% têm até três anos de uso. Em contraste, as vendas de veículos a combustão aumentaram 9% em relação a 2023, totalizando 8,8 milhões de unidades.

 

FONTE/CRÉDITOS: O Tempo
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